Gartus se sentou à mesa em sua humilde residência. O peso de seus sessenta anos causando desconforto em cada uma das juntas desgastadas pelos anos de servidão a César. Viu pelas frestas da janela de madeira os últimos flocos de neve caírem, ante a iminente primavera. Recordou-se do passado e das esperanças que detinha sobre a campanha da Gália e sua duração. Os dois primeiros anos de marcha e súbitos ataques noturnos poderiam ser considerados uma dádiva em contrapartida aos últimos dois dentre oito anos da campanha. O Cerco de Alésia jamais sucumbiria ao tempo.
-Para a muralha!- vociferou um centurião anônimo ao ouvir o toque do corneteiro.
Gritos ordenados de homens endurecidos por décadas de luta geraram ordem no caos noturno.
Gartus disparou escadaria acima e assumiu posição no primeiro local que encontrou. O uniforme vermelho com tiras de couro, sujo e amarrotado, mal se movia quando atingido pelo vento que, por sua vez, ao adentrar o espaçamento entre o elmo e o couro de sua cabeça, sibilava em uma tonalidade aguda e irritante.
O arqueiro fitou a fortaleza sobre o morro. Seus grandes e imponentes portões estavam abertos, através dos quais uma força gigantesca de cavalaria não estava presente. Gartus pegou uma tocha num dos muitos postos avançados dispostos sobre a muralha e atirou-a sobre a amurada, procurando qualquer sinal de ataque inimigo.
-Eles fugiram? - perguntou um outro Auxilia para qualquer um ao alcance da voz.
-Eles estão cercados. Não há como fugir. - contrariou um legionário apoiado em um de seus Pilum, como se este fosse um cajado.
-O rio. - sugeriu um outro.
-Não. O rio tem muita correnteza para cavalaria. Em especial à noite.
-Quarenta mil cavaleiros não fogem de uma batalha sem um bom motivo. - afirmou Gartus sem se importar com respostas.
-O General César é um bom motivo. - afirmou o mesmo legionário que falara antes, gerando júbilos ao nome de César de todos ao redor.
O Sol subiu pela manhã e, com ele, uma nova muralha romana.
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