Veliazar caminhava de um lado a outro
do templo, como um humano teria feito quando com ansiedade aflorada. Dias,
meses, anos. O tempo corria tão depressa de modo que nem chegava a saborear a
imortalidade. Os séculos se passavam como águas das corredeiras do Phirmopylae,
fazendo-o se martirizar pelo passado obscuro. Sua morte traria nova vida a
Morfangnor, mas, para tanto, teria de sacrificar seu juramento e renegar sua
promessa.
Não naquele dia. O destino logo o
encontraria.
Um rosto que há muito lhe era familiar
adentrou o salão.
-Se as notícias não forem promissoras,
pode voltar de onde veio até que resultados sejam obtidos. – disse Veliazar com
rispidez e absoluta segurança em suas palavras.
-Tem certeza de que podemos confiar
nas palavras de Lonkir? – perguntou o mago. – Muito tempo se passou desde a
origem da profecia.
Veliazar virou seu capuz na direção do
homem que lhe falava. O mago não podia ver os olhos do enviado à sua frente, o capuz
branco recobria sua face tornando-a um breu total, ainda assim, sentiu o olhar
pesado censurando-o.
-Lonkir não se enganou. Se veio até
aqui apenas para fazer esta pergunta, perdeu vosso precioso tempo. Encontre-o.
Sorhes balançou a cabeça, desapontado
com a impaciência de Veliazar, entretanto, conseguia entender sua origem. Três
milênios haviam se passado desde sua origem, era de se esperar que a busca
fosse longa, mas ninguém jamais havia esperado que durasse tanto assim.
-Há alguém... – disse o mago.
Veliazar ergueu o rosto encoberto.
-Então por que hesita? – perguntou.
-Porque ele se encaixa na descrição
exata da profecia, exceto por uma coisa.
-Então não é ele. – afirmou Veliazar
virando as costas.
-Mas ainda pode vir a se tornar. –
disse o mago levantando as sobrancelhas e inclinando o rosto para frente.
Veliazar girou o pescoço sem mover o
corpo, deixando a lateral de seu capuz visível para Sorhes.
-O quarto quesito? – perguntou.
O mago assentiu.
Veliazar bufou demoradamente.
-Você sabe o que isso significa. –
disse o Arcanjo para o mago. – Acha que vale o risco?
-Podemos continuar procurando por mais
três milênios até que surja alguém perfeito, entretanto, se fizermos isto, a
busca terá acabado e os quatro quesitos estarão preenchidos.
-Não estou certo sobre o que devemos
fazer. – disse Veliazar balançado a cabeça. – Você, como ser humano, faria
isto? Teria coragem de ousar tanto para salvar este mundo?
-Não posso dizer que ficaria feliz,
contudo acho que é o mais certo a se fazer. – respondeu Sorhes.
O Arcanjo balançou a cabeça
desapontado com o que faria a seguir.
-Traga-o a mim. Então veremos se ele é
quem você diz. – disse Veliazar.
Sorhes fez um meneio com a cabeça e
saiu pelo portal prateado, revigorado, pois suas conclusões finalmente seriam
postas à prova.